sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mais um capítulo da novela...

Valéria Zukeran - O Estado de S.Paulo
O projeto que prometia ser um salto no desenvolvimento do ciclismo de estrada brasileiro corre o risco de se tornar um caso de polícia. O Banco Santander está acionando a polícia na Europa, enquanto a União Ciclística Internacional (UCI) apura, por meio de empresa de auditoria, se a equipe Scott/Marcondes Cesar/São José dos Campos deu garantias financeiras falsas para obter, no começo do ano, a credencial Profissional Continental, primeiro passo para disputar as principais provas do calendário mundial.
Os problemas da equipe, em atividade há 13 anos, começaram em março. "Foi quando começaram os atrasos de pagamento", conta o ex-ciclista Luciano Pagliarini. Gradativamente a situação foi se tornando mais grave, até que a UCI suspendeu a equipe do Vale do Paraíba de todas as competições até que as pendências fossem acertadas e autorizou os atletas a se transferirem. "Vimos que tudo aquilo que havia sido prometido era só conversa", lamenta Pagliarini. Em setembro, o time anunciou insolvência financeira e fechou.
Seria mais um caso de agremiação esportiva do Brasil encerrando as atividades por falta de dinheiro não fossem as consequências do caso. O site Pedaladas divulgou a cópia de um e-mail no qual a UCI informava que havia tentado sacar da conta da equipe as garantias financeiras oferecidas por ocasião da aprovação da credencial Profissional Continental mas, como o banco Santander não respondia às solicitações de repasse de dinheiro, entrou em contato com a matriz espanhola. A resposta foi que a autenticidade dos documentos apresentados não foi atestada e se isentou da responsabilidade pelos pagamentos.
Esta semana, A UCI confirmou a história ao jornal Estado de São Paulo e tornou o caso público. "O Grupo Santander informou que eles já registraram uma queixa formal às autoridades policiais competentes. A UCI, por sua vez, está examinando a situação com a Ernst &Young (empresa de auditoria e consultoria)", diz o chefe de imprensa da entidade, Enrico Carpani.
Pagliarini acredita ter participação no fato. "Eu e vários atletas acionamos a UCI para receber os salários atrasados com o resgate das garantias financeiras e acredito que, por causa disso, eles tenham tentado sacar dinheiro da conta no Brasil", explica. Como a entidade máxima do ciclismo até agora não teve sucesso na empreitada, Pagliarini - um dos ciclistas mais promissores da história do Brasil e integrante de importantes equipes internacionais - tomou uma decisão radical. "Fiquei tão desiludido que resolvi pendurar as sapatilhas." A experiência do atleta de 32 anos, pelo menos, não será desperdiçada - Pagliarini já faz parte da comissão técnica da Confederação Brasileira (CBC).
A entidade máxima do ciclismo nacional se isentou de responsabilidade e afirma que a UCI em nenhum momento entrou em contato pedindo qualquer ajuda para resolver a situação. "No caso das competições no continente, a CBC faz o credenciamento. No caso de São José, como era uma autorização internacional, os trâmites foram feitos diretamente entre a equipe e a UCI, que só nos consultou na época de aprovar a credencial para saber das atividades do time aqui no Brasil", conta o presidente José Luiz Vasconcelos. "Ouvia coisas sobre a equipe aqui e ali mas, como não havia nada oficial, informei que estava tudo ok." O dirigente não teme que o caso possa prejudicar futuras tentativas de equipes brasileiras de se lançarem no circuito internacional de ciclismo. 

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