terça-feira, 15 de novembro de 2011

Muur van Geraardsbergen: Sangue e Velocidade


A história e o ciclismo andam lado-a-lado. A Ronde Van Vlaanderen é uma das provas com maior história deste esporte, mais valorizada pelos corredores e pelos fãs. Por cima dela vem a fábula do Muur van Geraardsbergen.
Geraardsbergen foi destruída em 1381 pelas tropas de Gerard IV de Enghien. A cidade foi sitiada e a resistência dos habitantes locais foi impressionante. Conta a lenda que as pessoas de Geraardsbergen jogavam comida pelas janelas enquanto viviam sob o assédio das tropas. O que buscavam? Lançar um golpe de orgulho que deixava claro que tinham comida até para ratos e que seria difícil derrotá-los. A batalha foi cruel e desigual.
O drama em Geraardsbergen foi total. Muita gente tratou de fugir pelo caminho empedrado que era a única forma de escapar não se sabe para onde. A coragem e a valentia dos habitantes desta cidade de Oost-Vlaanderen deixou um legado.
Há sete séculos as pessoas tentavam escapar da morte. Na atualidade por essas pedras repletas de história os heróis da atualidade tentam outro tipo de fuga, desta vez em busca da glória. Antes e depois, a glória final se encontra em Meerbeke, mas sem dúvida, o paraíso e a lenda se situam 13Km antes da linha de meta. O Muur van Geraardsbergen é um dos lugares com maior misticismo no esporte de duas rodas, e como consequência, do norte da Europa.
A cada ano as prévias de todos os meios de comunicação fazem muitas matérias com este trecho de 1,1Km de extensão e pendência média de 9,3%, alcançando o máximo de 19,8%. Palavras como Grammont, Geraardsbergen, Muur-Kapelmuur muitas vezes são usados sem saber exatamente o que significam, partindo da base que não pertencem sequer ao mesmo idioma.
Grammont e Geraardsbergen significam o mesmo (em francês e flamenco): a cidade em si. Com certeza uma das primeiras que existiram na Idade Média na Bélgica.
Mais confusão existe com a expressão Muur-Kapelmuur. Na verdade, não são o mesmo. O “Muur” é o trecho completo que inicia no centro da cidade, enquanto que sua última seção é denominada “Kapelmuur” (Muro da Capela, em flamenco). Na verdade, um pouco mais de 30 metros.
As pessoas que visitam esse monumento do ciclismo recordam perfeitamento o traçado e podem descrevê-lo de memória com o passar dos anos. Dizem que não há nada comparável a prova que a organização da “De Ronde” prepara para os cicloturistas. Deve ser saboreada metro a metro, pedra a pedra. Chegar até a capela é um êxito por si só.
Tudo começa após cruzar o rio Dender. A partir deste momento a estrada começará a inclinar de forma inevitável. O aspecto medieval é impactante. Como se os anos não houvessem passado. É um trecho asfaltado mas que precisa ser encarado com respeito.
Então se atravessa a mítica curva a direita de onde inicia o inferno. É o denominado Oudebergstraat (Rua das Velhas Encostas). O impacto da inércia dos paralelepípedos sobre o corpo é imediato e em plena curva se encontra uma cervejaria com uma placa enorme “Jupiler”, famosa na Bélgica. Os menos valentes optam por tomar um refrigerante antes de prosseguir.
A inclinação começa a ficar dramática. A estrada fica estreita. As vozes se calam. A inclinação é tão selvagem que produz-se grandes grupos. Após poucos giros nos pedais se aproxima a hora da verdade. Uma curva a esquerda e chega-se a um dos pontos altos do ciclismo mundial, o trecho de maior pendência do Muur. O esforço é sobre-humano após 242Km acumulados nas pernas. As cenas são dantescas: ciclistas retorcendo-se e em muitos casos colocando os pés no chão. Flanders e Muur em estado puro.
Nos aproximamos do Kapelmuur e pode-se avistar uma das capelas mais míticas do esporte: a de Oudeberg. Chegar ao topo é o único objetivo.
Com vocês, o Muur van Geraardsbergen naquela que foi uma das melhores edições da Ronde van Vlaanderen dos últimos anos.
Fonte: Zaka - Maglia Rosa

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