quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A evolução do antidoping


Diz o velho ditado que existe uma corrida entre os que dopam (trapaceiros, batoteiros…) e os exames antidoping, e que esses exames estava sempre um passo atrás. Daí o grande número de casos de batoteiros, mas quase sempre nenhum atleta de ponta era pego.
Esse ditado surgiu por uma razão. Os benefícios de se dopar eram muito maiores que os riscos de ser pego, porque existia muito mais dinheiro envolvido na trapaça do que o que era investido em programas antidoping.  Bom, desde a fundação da WADA (World Antidoping Agency), em 1999, na Suíça, esse não é mais o caso. Hoje grandes investimentos são feitos em programas antidoping, inclusive pelas próprias equipes, que podem vender isso a seus potenciais patrocinadores, melhorando seu valor de mercado. Vale lembrar que a T-Mobile – que deu origem a HTC – abandonou seus investimentos no ciclismo graças a escândalos envolvendo seus atletas, entre eles Ulrich. A Phonak, do empresário que é hoje o dono da BMC, também abandonou seu patrocínio depois do caso Landis.
Desde o surgimento do passaporte biológico (já escrevi sobre ele aqui) a corrida entre mocinhos e vilões anda cada vez mais equilibrada, e parece que os good guys estão levando a melhor. Mas apesar do passaporte, uma das formas ainda persistentes de doping era a transfusão do próprio sangue, pela dificuldade de se identificar a trapaça. O batoteiro retira seu sangue e o armazena, alguns meses depois o reinjeta e, com isso, aumenta seu número de hemácias, tendo um efeito parecido com o uso de EPO.
O diretor legal da WADA, Olivier Niggli, é um pouco cético quando o assunto é a erradicação do doping. De acordo como ele, somente a ciência não será capaz de erradicar a trapaça. E é por isso que a WADA busca sanções não somente aos atletas, como também a todos os envolvidos no esquema. Eles também estão buscando outras formas de obter evidências de doping que não somente as obtidas via exames que buscam por substâncias ilícitas no sangue ou na urina.
No mês passado, um dos responsáveis pelo controle antidoping das Olimpíadas de Londres de 2012, David Corwan, fez uma palestra no Festival Britânico de Ciência, afirmando que ele está próximo de descobrir uma forma de identificar transfusões com o mesmo sangue. O processo foca na degradação das cadeias de RNA das células, que acontece durante o armazenamento, mas obviamente Corwan não deu muitas explicações. Disse apenas que continuaria trabalhando no problema, e que era bom os batoteiros ficarem espertos com isso.
De fato, a simples ameaça já pode ter um resultado igual a um método real. Ter uma pulga atrás da orelha na hora de fazer uma transfusão, sem saber se poderá ou não ser pego, vai fazer muita gente desistir da idéia. Pensar em perder a medalha – em um espetáculo público – logo após ter ganhado, e ainda ser banido do esporte, também pode ser um fator que vai motivar muita gente a ter uma postura mais honesta. No final da palestra, Corwan coroou a sua ameaça dizendo que as Olimpíadas do ano que vem serão as mais arriscadas da história para quem quiser se dopar.
Tomara.
Fonte: Cycling Rocks

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