A relação da UCI – e mais precisamente do seu presidente, Pat McQuaid – com as equipes ProTour já anda desgastada há muito tempo. Muitas das críticas dizem respeito a truculência e falta de transparência dos atos da UCI, seja para determinar novas regras ou exigir que se respeitem regras antigas. Um bom exemplo foi o que ocorreu durante o contra-relógio desse ano no Tour de France. Os fiscais da UCI passaram – de uma hora para outra – a exigir que os selins das bicicletas estivem completamente na horizontal. Essa é uma regra antiga da UCI, mas obviamente não era observada ao pé da letra porque os selins não são totalmente planos, portanto achar um ponto de referência para desenhar uma linha paralela ao solo é quase impossível. Ainda assim os fiscais exigiram cumprimento e a chuva de reclamações e críticas dos atletas e diretores esportivos foi intensa. Johan Bruyneel, diretor esportivo da Radioshack, é sempre um dos que mais reclama – publicamente – e já levou algumas suspensões por causa de seu comportamento.
Outro ponto de atrito intenso esse ano foi o caso da proibição dos rádios. A UCI estabeleceu que a comunicação por rádio entre atletas e carros de equipe deveria ser proibida. As equipes e os atletas, representados pela AIGCP (Association International des Groupes Cyclistes Profissionels) não aceitaram e a briga começou. A novela se estendeu durante todo o primeiro semestre, inclusive com cartas públicas trocadas entre atletas e a UCI. Aqui você pode ver uma carta de Jens Voigt ao presidente da UCI, contra a proibição dos rádios.
O cabo de guerra chegou a tal ponto que os times ameaçaram boicotar o Tour de Beijing (que está acontecendo essa semana) e ainda criar uma liga paralela. E essa foi uma ameaça séria porque mexia diretamente com o bolso da UCI. A maioria das corridas ProTour não são da UCI, e sim de empresas privadas que as organizam. É o caso da ASO, organizadora do Tour de France e de tantas outras. Somente o Campeonato Mundial, e agora o Tour de Beijing, são organizados pela UCI, e o primeiro representa uma das fontes mais importantes de receita do órgão.
Com essa ameaça, McQuaid resolveu retroceder e colocou o assunto da proibição dos rádios de lado. Ao menos por enquanto. Ontem surgiu mais uma informação que pode dificultar ainda mais a vida da UCI. Parece que McQuaid, não satisfeito e ainda com medo de um boicote, escreveu uma carta aos PATROCINADORES das equipes, ameaçando-os e exigindo que estes forçassem suas equipes a correrem o Tour de Beijing. A matéria saiu no Velocast, aqui.
Ainda, McQuaid afirma que se os times não comparecessem ao evento, ele iria informar as autoridades chinesas, o governo chinês tomaria isso como ofensa pessoal, e os interesses comerciais dos patrocinadores seriam seriamente afetados. E o não comparecimento das equipes poderia implicar em perda da licença ProTeam e dos benefícios associados a ela.
Não se sabe se a carta veio diretamente do presidente, sem conhecimento da UCI – o que deixaria McQuaid numa situação delicadíssima – ou se ela foi assinada por McQuaid COM conhecimento da UCI – o que deixaria o órgão em maus lençóis.
Fato é que a história é mafiosa para se dizer o mínimo. Coisa de deixar o Ricardo Teixeira com inveja. E que sem dúvidas as cenas dos próximos capítulos serão interessantes. Vamos ver como será – ou se haverá – algum pronunciamento da UCI.
E para contextualizar, vários atletas/equipes não queriam participar da corrida. Entre os vários motivos levantados estão o desgaste da viagem no final da temporada, a logística de transporte, e, pasmem, aqualidade do ar, tido como o pior do mundo.
Hoje o contra-relógio (vencido por Tony Martin) foi realizado em bicicletas normais, e não em TTs. O motivo é a logística de transporte dessas bicicletas para somente uma etapa de contra-relógio. A foto abaixo, tirada hoje cedo por Lars Boom, da Rabobank, mostra a qualidade do ar que os atletas enfrentaram. Andrew Talansky, da Garmin Cervelo, é outro que está criticado abertamente a corrida. E parece que durante a prova não havia viva alma na rua para ver a competição.
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